“E AGORA, JOSÉ?”
INFÂMIAS DE UM QUALQUER NA CIDADE
DOI:
https://doi.org/10.24979/107Resumo
Tomando a vida e morte de um morador de rua da cidade de Boa Vista como analisador, este texto pretende problematizar alguns dos modos de subjetivação presentes no contexto da capital roraimense. Parte-se, nesse sentido, da ideia lançada por Foucault (2001) de que “há algo bem diferente” por trás das coisas, ao tempo em que empreende uma tentativa de aproximação com as ideias de Giorgio Agamben (2009) sobre o contemporâneo como movimento de desconexão e dissociação com o presente. Primeiramente colocado enquanto o intempestivo, recorrendo a Nietzsche, o filósofo italiano também se utiliza da metáfora luz-escuro para ressaltar o olhar fixo no tempo que o contemporâneo se compromete a ter. Uma ideia similar parece ser proposta por Foucault (2005): um pensar descolado do tempo e, paradoxalmente, aderido a ele, buscando historicizar, problematizar nosso presente. Sustentado nisso, aponta-se como a história de um homem comum serve de indicativo ou pista de como produzem-se vidas descartáveis ou, social e politicamente, matáveis (FOUCAULT, 2008, 2013). Vidas infames, reconhecidas pelas poucas e definitivas palavras dirigidas a elas por um poder. São frases, palavras, expressões que lhes impingem, individualizam e as definem segundo seu crime, pecado, inaptidão, etc. (FOUCAULT, 2006). A despeito disso, acena-se para a potência dessas vidas infames: a de nos surpreender, de pôr-nos à prova, de se fazer viva, quando a querem morta.
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