Etnomapeamento de roças indígenas em ilhas de mata no lavrado de Roraima, extremo norte da Amazônia

Autores

DOI:

https://doi.org/10.24979/ambiente.v17i2.1253

Palavras-chave:

Etnoecologia, Gestão Territorial, Agricultura de corte-e-queima

Resumo

Na região da savana de Roraima (chamada de “lavrado”), onde predomina a vegetação herbácea, as roças indígenas são instaladas em áreas de vegetação florestal, restritas ao entorno de cursos d´água ou fragmentos denominados “ilhas de mata”, onde também se caça e se extrai madeira, remédios etc. Nas terras indígenas com poucas áreas florestais, as ameaças ao manejo tradicional são agravadas. O etnomapeamento é importante ferramenta no diagnóstico e aperfeiçoamento de práticas tradicionais. O objetivo deste trabalho é analisar informações sobre o manejo indígena em ilhas de mata em quatro comunidades, levantadas por meio de etnomapeamentos e de entrevistas. Cada família derruba e queima uma média de 2500 m2 de área florestal em ilhas de mata, anualmente, para instalar roças. As ilhas mais pressionadas são as mais próximas do centro das comunidades, preferidas para instalação de roças pela facilidade de acesso, onde os fragmentos abertos são mais numerosos e maiores. Os principais aspectos positivos mapeados nas ilhas foram a presença de madeira nobre e de animais de caça; e os negativos foram relacionados ao fogo e entrada de animais em roças. Ações de gestão territorial podem ajudar a controlar a pressão de uso das ilhas de mata por meio de normas e diretrizes comunitárias.

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Biografia do Autor

  • Rachel Camargo de Pinho, Universidade Federal de Roraima

    Professora do curso de Gestão Territorial Indígena/UFRR, na área de Agroecologia. Engenheira florestal (UFV/2006), mestre em Florestas Tropicais (INPA/2008) e doutora em Recursos Naturais (UFRR/2023). Desde 2006 desenvolve atividades de ensino, pesquisa e extensão com comunidades e organizações indígenas da região do Lavrado (savanas) da Amazônia roraimense, nas áreas de manejo ecológico do solo, sementes tradicionais, viveiros de mudas, agroflorestas, etnomapeamento, educação ambiental e pesquisa participativa.

  • Arthur Camurça Citó, National Institute of Amazonian Research

    Geógrafo, Analista de Sistemas, Especialista em Geoprocessamento, Mestre em Ciências Ambientais e Servidor Público Federal. É Técnico em Ciência e Tecnologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, onde atua como chefe do Núcleo de Apoio à Pesquisa de Roraima.

  • Thiago Orsi Laranjeiras, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

    É biólogo formado pela Universidade Estadual de Goiás (2005), com Mestrado (2008) e Doutorado (2019) em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Formação, experiência, projetos e publicações são focadas na biogeografia, ecologia e conservação de aves na Amazônia. Atualmente, atua pelo Núcleo de Gestão Integrada do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade no estado de Roraima (ICMBio Roraima), gerenciando e executando atividades de pesquisa e monitoramento da biodiversidade nas Unidades de Conservação federais no estado.

  • Pedro Aurélio Costa Lima Pequeno, Universidade Federal de Roraima

    Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Amazonas (2008), e mestrado (2011) e doutorado (2017) em Biologia (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Minha principal linha de pesquisa é testar hipóteses ecológicas e evolutivas, sobre a biodiversidade amazônica, mas também colabora com pesquisadores investigando outras questões nas Ciências Ambientais. Tem experiência com ensino de ecologia e biologia evolutiva, estatística e delineamento amostral, programação na linguagem computacional R e comunicação científica.

  • Sonia Sena Alfaia, National Institute of Amazonian Research

    Graduou-se em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal do Amazonas, tem mestrado em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras e Doutorado em Sciences Agronomiques pelo Institut National Polytechnique de Lorraine (França). Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em manejo e conservação de solos tropicais, atuando principalmente nos seguintes temas: agricultura familiar, sistemas agroflorestais, agricultura indígena e agroecologia. É pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), professora dos cursos de pós-graduação do INPA em Agricultura no Trópico Úmido e Ciências de Florestas Tropicais, onde coordena a disciplina de Características e Manejo de Solos Tropicais.

  • Reinaldo Imbrozio Barbosa, National Institute of Amazonian Research

    Engenheiro Florestal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e Doutor em Biologia Tropical (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Possui especial interesse em estudos relacionados às mudanças climáticas, uso e ocupação da terra, dinâmica de ecossistemas e emissões de gases do efeito estufa decorrentes das atividades antrópicas na Amazônia. É Pesquisador Titular do INPA, Professor do Programa de Pós-graduação em Recursos Naturais da UFRR (Doutorado/Mestrado) e Professor colaborador nos cursos de Pós-graduação em Ecologia e Ciências Florestais do INPA (Doutorado/Mestrado).

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Publicado

27/12/2024

Como Citar

Etnomapeamento de roças indígenas em ilhas de mata no lavrado de Roraima, extremo norte da Amazônia. Ambiente: Gestão e Desenvolvimento, [S. l.], v. 17, n. 3, p. 103–129, 2024. DOI: 10.24979/ambiente.v17i2.1253. Disponível em: https://periodicos.uerr.edu.br/index.php/ambiente/article/view/1253. Acesso em: 2 jan. 2025.

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